Nesta terça-feira, 27 de setembro, data definida pela Organização Marítima Internacional – IMO (na sigla em inglês) é comemorado o Dia Marítimo Mundial.
Tecer comentários para marinheiros sobre a importância da atividade marítima é dispensável. As sociedades das mais diferentes nações não prescindem da atividade mercante marinheira. É bom observar que existimos por causa dela e ela não existe sem nós. O transporte marítimo pode existir com ou sem empresas privadas, com ou sem imensos conglomerados, com ou sem grandes navios, com ou sem alta tecnologia, com ou sem cuidados com o meio ambiente, de forma segura ou insegura, seja como for, só não existe sem marinheiros em suas mais diversas funções.
Os festejos decorrentes do Dia Marítimo sobejam em discursos sem compromisso com a prática, com medalhas e comendas distribuídas sob critérios questionáveis. Contudo, no que depender da IMO, o marítimo continuará sendo tratado em dependências próprias de serviçais para dar brilho às comemorações.
Pródiga em lançar sobre os ombros de quem trabalha no mar as maiores responsabilidades da atividade, como é percebível logo no início do artigo sobre o “Elemento Humano” em seu sítio oficial na Internet, a Organização Marítima Internacional deu uma contribuição perversa ao conduzir a Organização Internacional do Trabalho em convencionar um regime de trabalho que tem a duração, no ápice de seu abuso, de duas vezes o que um trabalhador em terra de país desenvolvido se obrigaria a cumprir.
E não se diga que, pelo menos, oferece compulsória tecnologia a ser embarcada junto com as responsabilidades de quem cabe comandar e gerenciar o trabalho a bordo. Em recente artigo na conceituada “The Economist”, em análise do quadro atual da navegação comercial marítima lê-se: “…o transporte marítimo anda muito atrás quando comparado com outros setores, como o aeroespacial por exemplo. Um avião moderno gera vários terabytes de informações por dia, enquanto que um navio leva 50 dias para produzir 1 terabyte de dados. A maior parte das embarcações não possui sequer sensores que confirmem se as escotilhas estão fechadas antes de desatracar.”
A fadiga a bordo é hoje, mais do que nunca, a constante companheira de marinheiros. Ingrata e perigosa. Responsabilize-se a crescente burocratização do serviço de bordo nestes últimos 20 anos e nenhuma preocupação quanto ao regime de trabalho cuja responsável maior, registre-se, é sua prima dileta sediada em Genebra, a Organização Internacional do Trabalho. A Organização do tal trabalho decente, ou seja, aquele que se nasceu para trabalhar mantendo-se a saúde, procriar e entregar ao mercado filhos pródigos em perfeita saúde e com educação no nível mínimo para que possam produzir grandes lucros. Para os outros, claro, pois viver não é preciso. Só faltaram copiar o lema de triste passado: “O trabalho liberta”. Talvez porque trabalhadores fisicamente depauperados não interessam. Não favorecem bons lucros.
Deve-se muito à IMO as fantásticas 77 horas de repouso mínimo “admissíveis” semanalmente para o marítimo. E ainda perguntam: para que servem Sindicatos? Pergunta-se, igualmente: por que se preocupar com sensores em escotilhas tendo-se tanto tempo para o descanso!? Talvez aqui não seja o local apropriado para ironias, mas fazer o quê? Talvez seja necessário. A redução do número de tripulantes é sempre uma possibilidade na ordem do dia! O fato é que não se cansam de aumentar as fainas a bordo, auditorias, vetting inspection
Não há o menor movimento na direção de limites realmente humanos para um trabalho sem fadiga. Seguro. Não há o menor movimento na direção de garantia de emprego aos nacionais. Não há o menor movimento na direção de uma verdadeira ligação entre o armador (pessoa física ou não) e a bandeira da embarcação.
Diante de um cenário em que a Organização Marítima Internacional atua com total insensibilidade para o que ela mesma definiu como elemento humano, comemora-se o Dia Marítimo Mundial. Há pelo menos uma serventia nele! Estimular o marítimo a refletir sobre o seu real papel na atividade, vislumbrar sua força e a dependência do sistema à sua disposição e competência de se fazer ao mar. Com um mínimo de reflexão não é difícil perceber que a resposta sobre se deixará as dependências dos serviçais para ocupar o seu lugar no salão nobre da atividade, passa ao largo da individualidade, passa ao largo da vassalagem abjeta.Vassalagem s
A indispensável resposta sobre o que fazer vem no plural. No coletivo. Na união e na luta. Não bastará ao marítimo clamar por correções. Não bastará demonstrar suas razões ao observar que está em seu limite. Nada mudará porque está certo. Mudará se demonstrar que é forte e… Juntos são mais fortes.
Estejam onde estiverem. Fadigados ou não. Um brinde ao nosso Dia Marítimo Mundial! A todos os 365 dias!!!
Unidade e luta!
Juntos somos mais fortes!
Severino Almeida Filho
Presidente da CONTTMAF e do SINDMAR