Neste domingo (16/3), o Sindmar completou 25 anos de fundação e, para comemorar a data, o presidente da entidade, Carlos Müller, fez um discurso firme no qual destacou a importância da unificação dos sindicatos de náutica, de máquinas e de eletricistas da Marinha Mercante para a conquista de avanços para os seus representados.
Ao listar as melhorias alcançadas durante esse tempo, Müller, que também é presidente da Conttmaf, recordou depoimentos de marítimos que participaram do processo de unificação dos sindicatos, os quais salientaram o quão árdua foi aquela mobilização.
“Meus companheiros relatam como foi trabalhoso, como foi difícil. Levamos mais de 15 anos até construir, efetivamente, essa unidade. Havia companheiros que eram contrários ao processo de unificação porque tinham em mente projetos individuais que não contemplavam os interesses coletivos da nossa categoria”, disse em vídeo publicado nos canais de comunicação do Sindmar.
Ao ressaltar a unidade obtida nestas duas décadas e meia, o dirigente sindical reforçou a necessidade de se combater discursos que coloquem em risco a estabilidade e os direitos conquistados pelos trabalhadores após anos de luta.
“(…) aqueles que possam ter a ideia de separar a nossa categoria devem ser combatidos de forma veemente. Qualquer iniciativa de separar a nossa categoria, com certeza só pode interessar para armadores, não para os trabalhadores”, disse.
A unificação ampla dos sindicatos de gente do mar é um projeto antigo, iniciado ainda na década de 1980 sob a liderança do saudoso comandante Severino Almeida Filho – ex-presidente do Sindmar e da Conttmaf.
Essa proposta começou a tomar forma em março de 2000, quando o Sindicato Nacional dos Oficiais de Máquinas da Marinha Mercante (Sindmáquinas) se uniu ao Sindicato Nacional dos Oficiais de Náutica da Marinha Mercante (Sindnáutica). O Sindicato Nacional dos Eletricistas da Marinha Mercante se juntou a eles quatro anos depois.
Agora, a Confederação retoma a campanha de unificação dos sindicatos filiados à FNTTAA, mas desta vez com o apoio da ampla maioria da representação sindical laboral do setor.
Dirigentes sindicais se declaram a favor da unificação

Carlos Müller durante o seminário de Fortalecimento da Unidade Sindical
A Conttmaf reuniu dirigentes dos sindicatos filiados à FNTTAA no Seminário de Fortalecimento da Unidade Sindical em 6 de fevereiro, no Centro do Rio de Janeiro, para propor às entidades a criação de um plano de ação com o objetivo de promover um movimento amplo de unificação entre os trabalhadores do setor.
Os avanços conquistados pelo Sindmar – entidade resultante da união entre os sindicatos de oficiais de Náutica, de Máquinas e de Eletricistas da Marinha Mercante – serviram como case de sucesso para os sindicalistas que participaram do Seminário.
Para José Válido da Conceição, que ocupa a segunda posição na linha de comando do Sindmar e que presidia o Sindmáquinas à época do processo de unificação com o Sindnáutica, a unidade estabelecida com a junção das categorias em março de 2000 só trouxe benefícios para os seus representados.

José Válido
“São 25 anos de existência de um sindicato unificado, com três representações. Eu não represento apenas máquinas, eu represento máquinas, náutica e eletricistas. O Marco Aurélio e o Müller, idem, assim como todos os que fazem parte da diretoria. (…) Não teríamos alcançado tudo aquilo que vocês viram aqui se estivéssemos separados”, disse Válido ao se referir à apresentação na qual mostrou inúmeros avanços conquistados.
Os dirigentes citados por Válido são Marco Aurélio Lucas (diretor-procurador do Sindmar e ex-presidente do antigo Sindicato dos Eletricistas) e Carlos Augusto Müller (presidente do Sindmar e da Conttmaf, que assumiu as cadeiras antes ocupadas por Severino Almeida, ex-presidente do antigo Sindnáutica).
Buscando conscientizar as entidades sobre a importância da unidade sindical, ambos também ressaltaram as vantagens da unificação ampla para a luta coletiva por avanços nas condições laborais dos trabalhadores marítimos.
“O eletricista não tinha um código no STCW e, hoje, ele tem o III/7. Nós éramos uma categoria fadada ao fim. Então, o Sindicato dos Eletricistas, sozinho, sem a atuação que o Sindmar tem na ITF e na IMO, não conseguiria essa qualificação para o seu representado”, afirmou Marco Aurélio, que se uniu ao Sindmar em março de 2004.
Um patrimônio solidificado, uma boa estrutura administrativa, assessorias jurídica e previdenciária para os associados, acordos coletivos de trabalho dignos, auxílio para atualização de certificados de proficiência, além da construção do Centro de Simulação Aquaviária da Fundação Gente do Mar (FGMar) para a capacitação de seus representados foram alguns dos avanços destacados por Marco Aurélio.
Antigo sonho de Severino Almeida, a retomada da campanha de unificação de todas as entidades sindicais representantes da gente do mar agora é apoiada por dirigentes sindicais contemporâneos do ex-presidente da Conttmaf e do Sindmar da mesma forma como é abraçada pela nova geração de sindicalistas.
“Eu acho que a conjuntura da relação de trabalho tem sido cada vez mais difícil para nós, no sentido de enfrentar a grande mídia e a proliferação de notícias falsas também a respeito dos sindicatos. A unificação transforma o nosso movimento sindical num movimento mais forte, mais combativo para os próximos desafios que vêm por aí, nessa época digital. Então, contamos com essa unificação conduzida pela Conttmaf”, afirmou o presidente do Sindextrarol, Marcus Balbino.
Durante o seminário, Carlos Müller, que busca dar continuidade ao projeto iniciado há 25 anos, apresentou outro case de sucesso: a unificação dos sindicatos do setor nos Estados Unidos (EUA). Em 1938, eles fundaram a Seafarers International Union (SIU), que tem forte atuação na defesa dos interesses de trabalhadores das mais diversas categorias ligadas à atividade aquaviária do País.
“Há 86 anos, os tripulantes norte-americanos nos mostram que para conquistar avanços, é preciso reunir esforços no sentido de aumentar a nossa representatividade frente a tentativas de redução de direitos promovidas por armadores e governos que desprezam a dignidade humana de trabalhadores do mar”, observou Müller.
Além das discussões sobre os avanços que os sindicatos conquistaram com a unificação, a Conttmaf e a FNTTAA também promoveram um debate sobre a importância do estabelecimento de uma comunicação eficaz dos sindicatos com os seus representados nas redes sociais.
Outro tema abordado no encontro foi a atuação da Confederação na campanha da Federação Internacional dos Trabalhadores em Transportes (ITF) contra as bandeiras de conveniência, cujo objetivo é combater condições laborais degradantes e aumentar a quantidade de postos de trabalho na Marinha Mercante brasileira.
Ao fim dos debates, a representação sindical presente assinou um documento no qual assume o compromisso de dar continuidade às discussões sobre a proposta de unificação dos sindicatos.
“Nós temos inúmeras lutas que exigem, antes de mais nada, unidade. Então, nós estamos aqui para fortalecer e consolidar essa unidade, e estabelecer uma plataforma de luta unitária”, concluiu o presidente da FNTTAA, Ricardo Ponzi, ao ressaltar a importância da união entre os sindicatos já unificados para manter e sustentar a atividade marítima no Brasil.
Além de dirigentes da Conttmaf, da FNTTAA, do Sindmar e do Sindextrarol, participaram do Seminário de Fortalecimento da Unidade Sindical representantes do do SindRádio, do Sindmestres, do Sindenfmar, do Sindfogo, do Sindmarconvés, do Taicupam, entre outros.

Ricardo Ponzi discursando para lideranças sindicais no seminário
